Aprender a se conhecer, a desenvolver uma relação de estima consigo mesmo me parece tão importante quanto saber ler e escrever bem. No entanto, me pareceu curioso como profissionais da educação e pais tem supervalorizado a alfabetização, o desenvolvimento cognitivo e aprendizagem de outra língua, inseridos cada vez mais cedo na vida das crianças. De fato, se tivéssemos os indicadores para poder calcular a taxa de analfabetismo emocional e corporal no final do período escolar, acho que os números seriam aterradores… começando pelo crescente aumento de crianças iniciando a psicoterapia com vários sintomas como: estresse, depressão, ansiedade, agressividade, hiperatividade, entre outros.São inúmeros os indivíduos que não aprenderam a se escutar, que tomaram o hábito de recalcar suas tensões e que não sabem que palavras podem traduzir o seu mal estar. A isto se vem juntar, no âmbito das estatísticas, as altas taxas de depressão, obesidade, suicídios e divórcios. Espero que um dia o “alfabetismo emocional” ( o seu próprio ser) seja ensinado nas escolas… Imagino-a na forma de um único ateliê: o do conhecimento de si mesmo. O ser humano seria compreendido em sua globalidade, cada parte remetendo à outra. O foco seria a aquisição de m reflexo de atenção às mensagens que o nosso corpo envia quando estamos perturbados, em vez de recalcar esta informação, como tantos de nós aprendemos a fazer. E assim, desenvolver a confiança em nossos sentimentos. Podemos explorar as diferentes “portas” de acesso a nós mesmos, duas das quais são privilegiadas: os sentimentos corporais e as emoções. A visão de um professor dedicado à inteligência corporal seria no sentido de que a criança redescobrisse a comodidade e o prazer de habitar seu corpo. Devemos orientar nossas crianças e jovens a aestarem disponíveis para escuta e a cuidar das suas necessidades físicas: movimentar-se, alimentar-se, relaxar de maneira saudável e respeitosa.Temos de ensinar nossas crianças o ato de prestar atenção aos sinais do seu corpo quando exprime tensões, indisposições, contrariedades e inquietudes. Devemos lhes dar as chaves para aceitar e transformar esses mal-estares, através de:- jogos: favorecendo os movimentos, rodas de reflexão.- ritmar tempos de estudo: por momentos de concentração, relaxamento ou liberação de tensões corporais.- prever momentos de expressão, de compartilhamento dos sentimentos psíquicos e suas mensagens.- ter uma abertura por parte do professor às posições corporais (inquietude, conversas paralelas) julgadas como desrespeitosas, as quais associo mais ao cansaço e ao tédio.- propor ateliês para desenvolver o sentido do ritmo: ritmica, eurritmia, dança, etc.Quanto à inteligência emocional, poderíamos propor às crianças uma alfabetização. As mensagens veiculadas pelos sentimentos deveriam se tornar para eles como que placas de trânsito, cada um conheceria seu sentido. Por exemplo:- tédio: poderiam ser apresentados como oportunidades de se conhecer melhor, convites para escutar a si mesmo;- raiva: potência constrangedora que revela nossa inabilidade a exprimir nosso mal-estar.- Medos: turbulências subterrâneas que se escondem tão bem… as crianças seriam estimuladas a buscá-los através dos sentimentos aparentes ou dos comportamentos provocadores.- Surpresa: chave da nossa relação com o mundo emocional, a simples descoberta ajudaria a formar cidadãos abertos à diferença.O aprendizado consiste em realizar nossos movimentos de fuga com relação a emoções que nos perturbam. E, em seguida, adquirir os meios de administrá-las: a capacidade de se concentrar, de prestar atenção em si mesmo, de se deixar surpreender pela energia que surge no coração…Segue assim uma dica simples para iniciar com as crianças em casa ou na escola à expressão de seus sentimentos. Pinte um grande círculo no qual diferentes emoções correspondiam a uma cor. Antes do início do dia, das atividades, cada um deve escolher uma cor seguindo este código, sendo que as cores podem representar sua sensibilidade no momento.
Assim, estamos oferecendo uma oportunidade para que o outro seja respeitado e considerado em sua individualidade e totalidade, além de aprender a lidar com seus sentimentos sem ter medo de aceitá-las, podendo reconhecê-las e exprimir com autenticidade.Então, faço votos que a educação contemporânea leve em conta mais globalmente o seu principal ator: a criança. Que os contatos entre jovens, crianças, educadores e pais se construam a partir desta expressão de respeito mútuo!
Referências bibliográficas:
ROGERS, Carl. A Terapia Centrada no paciente. Lisboa: Moraes, 1974.FAURE, Jean-Philippe.
Educar em Punições nem Recompensas. Petrópolis: RJ: Vozes, 2008.STEINER, Rudolf.
A educação da criança segundo a ciência espiritual. São Paulo: Antrosófica, 1998.
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