Às vésperas da primeira aula, um
professor pode ter algumas reações desagradáveis, como ansiedade e medo. O novo
professor também pode acreditar que é tímido, e ter dúvidas quanto ao seu
desempenho em sala. Não
creio que isso possa ser considerado "normal", mas são reações
freqüentes. Na minha opinião, isso decorre de uma avaliação distorcida que
fazemos: imaginamo-nos dando aulas e as coisas dando errado, só que não
incluímos na avaliação a preparação que iremos fazer. Você pode considerar os
medos e ansiedades como procedentes, se você fosse dar aulas naquele momento.
Inclua uma preparação no caminho entre o agora e o momento das aulas e você vai
perceber que as emoções vão se modificando à medida que você vai se preparando.
Isto vale, é claro, se você pretende se preparar o necessário para o que vai
fazer.
Minhas sugestões para essa
preparação:
1) Planeje bem as aulas
Faça um planejamento detalhado do que
vai fazer, em conteúdo e estrutura, o que vai por no quadro, o que vai dizer.
Improviso é para quando você estiver mais maduro e mais à vontade. Se quiser
modelos de planejamento, veja o Almanaque do
Professor.
Você pode usar também mapas mentais, seja para planejar, seja
para apresentar o conteúdo para os alunos, seja para estes estudarem. Veja no
link acima a seção com exemplos, modelos e roteiro de elaboração, entre outras
coisas. Mapas mentais também requerem prática e dedicação para sairem
bem-feitos, mas está no futuro das escolas, pode ter certeza. Se você os usar
bem, já estará se diferenciando dos outros professores, para melhor.
É bom que você tenha experiência
significativa com o conteúdo, aí pode se concentrar na parte didática. Se não
tem, sugiro que a adquira rapidamente ou lecione outra matéria. Nada pior do
que um professor teórico, que acaba investindo a maior parte do tempo em seu
próprio aprendizado e não no aperfeiçoamento do planejamento, da comunicação e
outros aspectos do ensino.
Lembre-se de que todos nós gostamos
de variação e não gostamos de monotonia. Varie as estratégias de ensino, faça
os alunos se mexerem de vez em quando, faça perguntas, faça-os trabalhar em
dupla ou em grupo. Se
estiverem inquietos, dê 2 minutos para fazerem o que quiserem. De vez em
quando, certifique-se de que estão acompanhando; conforme o caso, um conceito
perdido compromete o restante da aula. Dirija-se a um aluno específico; alguns
alunos nunca abrem a boca por iniciativa própria, talvez por medos como
gozações de colegas ou "pagar mico".
E faça o possível para dar plantões
ou ter plantonistas para atendimento individual, os alunos aprendem muito
melhor com as respostas às suas próprias perguntas.
2) Ensaie
Dê a aula antes, para ninguém, para o
espelho ou para um conhecido. Se com este, peça para ele criticar e lhe indicar
as oportunidades de melhoria. Grave-se ou filme-se dando aulas e depois escute
ou veja procurando oportunidades de melhoria (faça isso antes que a realidade
lhe mostre). Se você nunca deu uma aula antes, quase tudo é novo, e há
muito, muito que você não sabe e que nem sabe que não sabe.
Procure variar o tom de voz, é mais
difícil prestar atenção a uma voz monótona. Repita e/ou enfatize com a voz
algumas passagens mais importantes.
3) Prepare-se emocionalmente
Emoções geralmente contém uma
mensagem. Na véspera da minha primeira aula, senti verdadeiro pânico; um colega
o teve durante a primeira aula. Depois descobri que isso era uma mensagem de
que eu devia me preparar melhor.
Na seção Inteligência Emocional tem
uma matéria sobre como lidar produtivamente com medos: Medo, seu aliado
para o sucesso. Pratique-a algumas vezes que depois você acaba
fazendo-a automaticamente, e terá uma boa ferramenta para o resto da vida.
4) Ajuste as expectativas
Cuidado com a auto-expectativa irreal
de que você tem que saber tudo e responder a tudo. Já vi um professor contar
que disfarçava seu não-saber indicando ao aluno o exercício de buscar a
resposta. Você tem que saber o conteúdo e mais um pouco. Quando me
perguntavam coisas que eu não sabia, fora da matéria, eu simplesmente dizia
que não sabia. Se achasse importante, podia até procurar, mas não era a regra.
Um aluno uma vez até disse me admirar por isso!
O que lhe dá credibilidade, talvez a
mais importante característica de um professor, não é saber tudo, porque isso
não é possível, mas sim dizer o que é, quando sabe, dizer que acha que é,
quando não tem certeza, e dizer que não sabe, quando realmente não sabe. Isso é
que o torna confiável.
5) Segure as rédeas da turma
Um ponto essencial em classe é você
reconhecer e saber que você é a autoridade. Os alunos testam os limites para
saber como se portar e usam o que acontece como referência para o que vão
fazer. Se alguém conversar alto e você não fizer nada, abre caminho para que
aconteça de novo. E se você disser que vai mandar alguém embora se atrapalhar e
o fizer duas ou três vezes, vai ter um padrão que permite aos alunos prever o
que vai acontecer, e aí não vai precisar mandar ninguém embora. O importante
aqui é você ter bem claro para si mesmo o que quer e saber que é o responsável
por fazer isso acontecer.
Por outro lado, é importante
preservar um bom e amigável relacionamento com os alunos, senão te
"fritam" e você não consegue alcançar o objetivo. Assim, um dos
objetivos iniciais é construir um bom relacionamento com a turma e com os alunos,
o que vai lhe permitir depois chamar a atenção deles sem que eles achem que
você os odeia (sobre isso, veja a matéria Golfinho
esperto, nesta seção). Para isso, procure os lados bons de cada
um: um é estudioso, o outro é cordial e respeitoso, todos têm qualidades,
e você é que tem que percebê-las. Se tiver que fazer algo drástico, como mandar
alguém embora, faça-o na boa, sem "matar" o relacionamento com ninguém.
O que você diz é secundário; a maneira como o diz é muito mais
significativa.
Nosso papel em sala é análogo ao de
uma boa enfermeira, que não liga se o doente é chato ou não, ela tem uma missão
e precisa fazer o que é preciso para cumpri-la, e precisa então relevar, ignorar
e esquecer as coisas que a tiram do foco e não contribuem para os objetivos.
6) Coloque-se no lugar do aluno
Um exercício muito bom que você pode
fazer é, estando relaxado, visualizar-se sentado numa das carteiras, na posição
de aluno. Experimente e descubra as vantagens. Uma professora de Biologia que
conheço prepara as aulas assim: lê a matéria, monta o quadro na mente e se
coloca na posição de um aluno para verificar se está bom.
Outra coisa boa é lembrar-se de suas
próprias experiências como aluno, como o que gostava nos professores e como se
relacionava com eles, o que sentia, como se motivava, influência dos colegas. .
7) Tímido, eu?
E se você acredita que é tímido,
permita-me não acreditar nisso, garanto que tem situações em que você não age
timidamente. É uma situação nova e requer preparação, e uma vez preparado
o suficiente, você vai se sentir mais confiante e com vontade, sabendo que vai
fazer um bom trabalho ou pelo menos que fez o seu melhor para isso, e vai
continuar melhorando na medida de sua dedicação. Para isso você só precisa de
foco: durante um tempo, priorizar a nova atividade e dedicar todo o tempo
possível. É querer de verdade fazer o melhor possível. Depois é mais
tranquilo.
8) Melhore-se
Para o futuro, mantenha ao lado, leia
e procure aplicar as idéias de livros de didática, em particular os de PNL.
Recomendo:
- Treinando com a PNL (O'Connor e
Seymour)
- Enfrentando a Audiência (Robert B.
Dilts)
- Aprendizagem Dinâmica I e II (Dilts
e Epstein)
- Almanaque do
Professor - Modelos, técnicas, estratégias e muitas outras idéias
que juntei e que podem lhe inspirar.
Ponha na cabeça e no coração que
haverá sempre algo a mais para se aprender, seja com livros, com colegas,
consigo mesmo, com o coordenador ou com feedbacks de alunos. Descobrir que não
sabe algo é um avanço, lembre-se disso. E, como disse o Millôr, "Aula em
que o professor não aprende nada é uma aula inútil".
Em
síntese
Se eu fosse resumir, diria que o mais
importante é: vai acontecer, e você precisa se preparar para isso. A certeza de
que vai acontecer, junto com a vontade de fazer bem-feito, é que mobilizam
seus recursos e suas capacidades, é que fazem com que você dedique 5 minutos a
mais. O resto é decidir como será feito e aprender com a experiência ao invés
de lamentá-la. E não se iluda: você vai se enriquecer devagar, um passo de cada
vez.
Boa sorte! E uma frase que vi algures
para fechar: "Quanto mais eu trabalho, mais sorte eu tenho!"
Virgílio Vasconcelos Vilela
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