“Às vezes eu sinto que ninguém gosta de mim e que a única solução é me matar”. Essa frase é de um garoto de 15 anos que teria sido vítima de bullying homofóbico na Escola Estadual Onofre Pires, na cidade de Santo Ângelo, Rio Grande do Sul.
De acordo com o relato do jovem, um colega de sala o atingiu com socos e pontapés na saída do colégio, na última terça-feira (13). Estudando há apenas um mês na escola, ele afirmou que desde o início das aulas vinha sofrendo ofensas verbais da maioria da turma.
No dia em que apanhou do colega, o menino disse ter pedido para ficar até mais tarde na escola uma vez que o agressor já teria feito ameaças durante o período de aula. No entanto, ainda segundo ele, seu pedido não foi atendido. Na saída da aula, ele foi agredido.
Em uma aula de geografia, uma aluna trouxe um ursinho de pelucia para a sala de aula e alguns alunos começaram a simular sexo oral e anal e me chamar de viadinho. Quando a professora foi perguntada por que não fazia nada ela só me disse: a aula é uma democracia. Continuou a dar aula como se nada tivesse acontecendo
Boca no trombone
Após a agressão, o menino encaminhou um e-mail à ABGLT (Associação de Brasileira de Lésbicas, Gays , Bissexuais, Travestis e Transexuais). A ONG orientou o jovem quanto aos direitos. O texto desesperado do e-mail, do qual foi retirado a frase que abre o texto, ganhou repercussão na internet.
O caso foi levado à Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente. A delegada-titular, Elaine Maria da Silva, informou que o agressor responderá por lesão corporal e injúria. O prazo para a conclusão das investigações é de 30 dias, seguindo para o Ministério Público. O suposto agressor, caso seja responsabilizado, deverá cumprir medida sócio-educativa.
Os pais da vítima decidiram transferir o adolescente para uma escola particular. “Estou com muito medo e assutado. Meus próprios colegas me ameaçaram na rua. Tenho medo do que meus colegas vão fazer pra me difamar. Às vezes eu penso que o mundo é um lugar horrível e que eu só quero sair dele sem sofrer nas mãos de mais ninguém”, declarou o menino.
Outro lado
O coordenador da 14ª CRE (Coordenadoria Regional de Educação), Adelino Jacó Seibt, lamentou o ocorrido. Ele acredita que os professores podem não ter levado a sério a orientação sexual do adolescente. Para Seibt, o bullying poderia ter sido evitado se o jovem tivesse declarado a homossexualidade para a direção da escola.
“Por ele ser aluno novo na escola, o bullying pode ter acontecido pelo fato de os professores levarem na brincadeira quando ele contou ser homossexual. A direção nos colocou que em momento algum a escola foi alertada quanto à “opção dele”, porque senão a escola poderia ter tomado alguma providência . Ao que parece, ele já tinha sofrido bullying na escola anterior. Se os pais tivessem colocado a escola a par disso não chegaria a esse ponto. Os professores podem ter achado que era uma brincadeira o fato de ele ser gay. Eles só acreditaram no dia da agressão”, disse.
Ele afirmou ainda que o aluno agressor foi suspenso por três dias. Seibt admite que faltaram ações pedagógicas para evitar o caso da Escola Estadual Onofre Pires, mas afirmou trabalhar para que novos casos de violência não venham a acontecer.
O coodenador do Comitê de Prevenção à Violência da Secretaria Estadual de Educação, Alejándro Jélves, solicitou reunião, que acontece hoje à tarde com Seibt na sede da CRE, para obter maiores informações sobre o caso.
Omissão dos professores
Segundo relatos do jovem, ele já sofria perseguição e as agressões verbais. Segundo ele, os professores tinham conhecimento do fato, mas nada fizeram para impedir o bullying. A vítima relata que o bullying ficou ainda maior há 15 dias, quando a professora de história pediu que cada um dos novos estudantes se apresentasse e ele afirmou ser gay.
“Alguns alunos ficaram paralisados com a minha declaração, outros três ficaram balançando a cabeça, fazendo o sinal de negativo. Algumas colegas até ficaram sem jeito, mas fizeram algumas perguntas para mim, mas na hora não vi malícia, apenas achei que era curiosidade. Perguntaram se eu não era novo demais parar fazer essa opção, como se isso fosse uma opção, também perguntaram em um tom de deboche se eu já tinha ido à parada gay e com que fantasia eu fui. Depois a professora comentou que a intenção era com que os alunos contassem sua historia e não fazer um debate em sala de aula sobre sexualidade em plena aula de história”, contou.
A partir daí, o jovem conta que foi isolado pela turma. Era tratado ou com desprezo ou com humilhações. Os alunos, disse ele, o atacavam com todo o tipo de atitudes homofóbicas, incluindo gestos obscenos. O adolescente conta que procurou a ajuda de uma professora, que disse nada poder fazer. Mesmo assustado, preferiu não levar o assunto aos pais, para não preocupá-los.
No última terça-feira (13), o garoto foi agredido fisicamente por um colega da escola: “Ele fez que ia tirar uma faca do bolso e eu peguei uma lápis da minha mochila para me defender. Me deu uma rasteira e me derrubou no chão. Quebrou meu lápis, me segurou e começou a me chutar e a me dar socos. Metade da turma viu e ninguém fez nada. Isso foi à tarde e no centro. Muita gente viu e saiu do comércio para me ajudar e para separar. A diretora estava chegando, viu eu apanhando e me ajudou. Ela e outras professoras do turno da tarde viram e me ajudaram, e me levaram para delegacia para eu fazer B.O [Boletim de Ocorrência]”, disse.
As informações são do site Uol/Educação - Rio de Janeiro
SECOM/CPP
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