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sábado, julho 23, 2011

Quando a escola é o espaço do inferno


Vale a pena ler...e refletir.

Quase 1.000 alunos são punidos, suspensos ou expulsos por 
dia nas escolas. Quase 1.000 por dia, alguns com 5 anos de idade! Por abusos 
verbais e físicos.
 No ano passado, 44 professores foram internados em hospitais 
com graves ferimentos. Diante do quadro-negro, o governo decidiu que professores 
poderão "usar força" para se defender e apartar brigas. E poderão revistar 
estudantes em busca de pornografia, celulares, câmeras de vídeo, álcool, drogas, 
material furtado ou armas. 
Achou que era no Brasil? É na Grã-Bretanha. 
Os dados são de um relatório governamental. "O sistema escolar entrou em 
colapso", diz Katharine Birbalsingh, demitida do Departamento de Educação depois 
de criticar a violência nas escolas públicas inglesas. "Os professores acabam 
sendo culpados pela indisciplina. A diretoria da escola estimula essa teoria, os 
alunos a usam como desculpa e até os professores começam a acreditar nisso. Eles 
não pedem ajuda com medo de parecer incompetentes." 
Os alunos jogam a cadeira no mestre, chutam a perna do mestre, empurram, xingam. 
Ou furam o mestre com o lápis, fazem comentários obscenos, estupram, ameaçam com 
facas. Alguns são casos extremos pinçados pela imprensa. Os números na 
Grã-Bretanha preocupam. Mostram que as escolas precisam restaurar a autoridade 
perdida. Muitos professores abandonaram a profissão por se sentir impotentes. 
Educadores mais rigorosos pregam tolerância zero com alunos bagunceiros e que 
não fazem seu dever de casa. 
As reflexões de lá são iguais às de cá. A violência nas escolas seria uma 
continuação do lado de fora, na rua e nos lares. A hierarquia cai em desuso. 
Valores e limites, que quer dizer isso mesmo?
Crianças e adolescentes não  respeitam ninguém. Nem os pais, nem as autoridades, nem os vizinhos, os 
porteiros, os pedestres, os colegas, as namoradas. Há uma falta de cerimônia, 
pudor e educação no sentido mais amplo. 
E aí a culpa é jogada nos pais. Por não mostrarem o certo e o errado. Não 
abrirem um tempo de qualidade com os filhos. Esquecê-los em frente a um 
computador ou televisão. O de sempre. O aluno que peita o professor também xinga 
os pais. Aric Sigman, da Royal Society of Medicine, em Londres, autor do livro 
The spoilt generation (A geração mimada) , afirma que, hoje, até criancinhas nas 
creches jogam objetos e cadeiras umas nas outras. "Há uma inversão da 
autoridade. Seus impulsos não são controlados em casa. É uma geração mimada que 
ataca especialmente as mães", diz ele. 
Muitos professores abandonam o ensino por se sentir impotentes diante da 
violência dos alunos
E o que o governo britânico faz? Manda o professor revidar. Até agora, ele era 
proibido de tocar no aluno, mesmo ao ensinar um instrumento numa aula de música. 
A nova cartilha promete superpoderes aos professores. Mestres, usem "força 
razoável", vocês agora têm a última palavra para expulsar um aluno agressivo, 
revistem mochilas suspeitas. Dará certo? Não acredito. Sem diálogo e consenso 
entre famílias, escolas, educadores e psicólogos, esse pesadelo não tem fim. 
No Brasil, a socióloga Miriam Abramovay, da Faculdade Latino-Americana de 
Ciências Sociais (Flacso), admite que os professores passaram a ter medo. Numa 
pesquisa para a Unesco em Brasília, em 2002, um depoimento a chocou: "Um 
professor me disse que ia armado para a escola. Como se fosse uma selva. Isso 
mostra total descrença no sistema". Ela acha que o Brasil está investindo 
dinheiro demais em bullying, mas esquece todo o resto: "Nossa escola é de dois 
séculos atrás". Os ataques aos professores não se limitam à sala de aula. Carros 
dos mestres são arranhados, pneus são furados. Eles não têm apoio nem ideia de 
como reagir. Muitos trocam de escola ou abandonam a profissão. 
Quando Cristovam Buarque era ministro de Lula, tinha, com Miriam, um projeto 
nacional de "mediação escolar" para prevenir conflitos, melhorar o ambiente e 
estimular o aprendizado. "Paulo Freire dizia que a escola era o espaço da 
alegria, do prazer, mas assim ela se torna o espaço do inferno", diz Miriam. O 
projeto não vingou. Cristovam abandonou o barco por sentir que Educação não era 
prioridade nos investimentos. E continua não sendo. Deveria ser nossa obsessão.


RUTH DE AQUINO 
é colunista de ÉPOCA
raquino@edglobo.com.br

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